Um Rio de Histórias: Uma Noite de Cinema e Tradições em Conselheiro Pena
Você é nosso convidado especial!
Publicado em 18/11/2024 13:27 - Atualizado em 18/11/2024 13:54
Você é nosso convidado especial!
Participe da estreia de “Um Rio de Histórias”, uma emocionante ficção da professora Márcia Cristina Cândido, moradora de Conselheiro Pena (MG). Inspirado nos causos contados por sua mãe e avô, o filme resgata memórias e tradições da nossa terra.
Data: 23/11
Horário: 19h30
Local: Rua da Escola Estadual Maria Guilherme Pena
Essa produção faz parte do Curta Vitória a Minas III, projeto patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, realizado pelo Instituto Marlin Azul, e que transforma histórias locais em cinema, valorizando as memórias e costumes das comunidades ao longo da Estrada de Ferro Vitória a Minas.
Venha viver essa história com a gente!
Houve um tempo em noite de lua cheia das famílias se reunirem debaixo do céu estrelado e em volta do fogão a lenha no quintal de casa para ouvir as histórias trazidas da mata e do rio. O real e o imaginário se misturavam num emaranhado assombrado, encantador e fantástico. A contação de histórias transmitidas de geração em geração inspirou o filme “Um Rio de Histórias”, da diretora Márcia Cristina Cândido, selecionada pelo Curta Vitória a Minas III.
Professora da educação infantil e do ensino fundamental, Márcia sempre vibrou como a menina que se apaixonou pelas histórias. Sua mãe Marli Cardoso Cândido lhe contava os causos ouvidos do pai dela, Geraldo Cardoso, um conhecido e respeitado mecânico de carros pesados na cidade, nascido num tempo em que o lugar ainda se chamava Lajão por causa da grande laje de pedra às margens do Rio Doce. Vô Geraldo também gostava de caçar e de pescar e costumava reunir a esposa Delvina Gomes Cardoso, a Vó Delva, e os 8 filhos biológicos e 05 adotivos para contar os causos colhidos nas aventuras. Eram contos do cotidiano dos antepassados como o da menina que virou onça e passou a assustar os pescadores e caçadores da região.
“Meu avô criou os filhos e os agregados que foram chegando vindos de famílias que não tinham condições de criar os filhos, mas, na época, como ele tinha uma condição boa, foi juntando as pessoas. A casa era pequena e existe ainda, teve algumas reformas e, hoje em dia, a gente se pergunta como tantas pessoas viveram nesta casa. Era um lar de acolhimento. Como esse povo ficava ali tudo junto, veio esta história do meu avô caçador e pescador. Cada dia que voltava da pesca e da caça, contava uma história diferente”, relata a professora. Segundo ela, algumas histórias eram inventadas, outras até aconteciam mesmo numa época com poucas casas no lugar.
Marli aprendeu a ler, a escrever e guardou muitas histórias num caderninho que se perdeu. Sua vida também continuou costurando novas histórias. Ela cresceu, avançou nos estudos e começou o curso técnico de enfermagem. Ao decidir se casar, desistiu da escola. Anos mais tarde, o gesto de contar histórias aprendido com o pai Geraldo ajudou Marli acalentar a filha Márcia e amenizar a tristeza e a solidão. Quando se separou, Marli precisou lavar roupa e trabalhar como doméstica para sustentar a filha e o filho mais novo, o Jussie. Após a mãe se esforçar para matriculá-la numa escola particular, Márcia conseguiu uma bolsa integral para cursar da quinta à oitava série como recompensa pelas notas altas.
“A mãezinha sempre foi guerreira, muito batalhadora, e ela foi muito nômade, andando atrás do meu pai que ficava de emprego em emprego. Eu e ela ficamos muito sozinhas. Foi por isso que ela me acalentava com as histórias do meu avô. A gente era muito unida nisto e era só nós duas. Depois éramos eu, ela e o meu irmão mais novo. Minha mãe é uma mulher diferenciada que, depois de uma certa idade, depois da separação, teve que trabalhar e, praticamente, criou a mim e o meu irmão, sozinha. É uma mãe muito forte”, ressalta a filha.
Márcia sempre amou estudar, ler e escrever. A gravidez no ensino médio levou a adolescente a cursar o magistério para sustentar a filha Mariana e ajudar a mãe e o irmão nas despesas de casa. Vó Delva ajudava a ficar com a bisneta para neta completar os estudos. Após a batalha para enfrentar os primeiros desafios de lecionar, a jovem mãe ingressou no Normal Superior, como era conhecida a atual faculdade de Pedagogia, e com o tempo, esforço e perseverança, vieram as duas especializações, “Mídias, Alfabetização e Letramento” e “Gestão, Supervisão e Orientação”.
Apesar do sonho com a carreira militar, Márcia abraçou a sala de aula. A professora se encantou com a alfabetização e com o poder da educação de transformar vidas e de fortalecer as pessoas no enfrentamento das questões sociais provocadas pelas múltiplas violências. E foi assim que a contação de histórias entrou mais uma vez na trajetória de Márcia. Todos os dias, no início da aula, ela conta uma história para a turma de crianças. O conto pode ser inventado, lido ou até inspirado em situações enfrentadas pelos estudantes no dia anterior ou naquela semana. A brincadeira se chama “Leitura Deleite”.
“Esta história contada no começo da aula para o aluno vem dar um afago nele, pra ele saber que estou ali, que sou amiga, mas também sou exigente. Ser professora é encantar, despertar o outro e, através da leitura, mostrar que existem outros mundos. Acho que o fundamental do ser professora é abrir portas que estão fechadas para eles. É mostrar que tem um mundo além. Quando vejo que tem uma turma muito resistente, eu mostro que a minha vida foi assim, assim, assim e que depois de começar a trabalhar, pude dar dignidade para a minha família”, relata a professora.
por Assessoria de Comunicação